Um viva a William Moulton Marston
Criação de Mulher Maravilha para a DC Comics
Marston estava envolvido com os primeiros movimentos pelos direitos das mulheres, incluindo questões de votação, o controle da natalidade e igualdade na carreira.
Com isto em mente, não é nenhuma surpresa que William Marston foi o psicólogo que criou a Mulher Maravilha para a DC Comics.
Ele sentiu que as mulheres precisavam de um símbolo de poder em tal tempo de mudança nos direitos das mulheres. Ele disse: “nem mesmo as garotas querem ser garotas, enquanto ao nosso arquétipo feminino faltar força, coragem e poder” (…).
A solução óbvia é criar um personagem feminino com toda a força do Superman além de todo o fascínio de uma mulher boa e bela”. Marston via a Princesa Diana como “a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deverá governar o mundo.”
Criada em 1941 por um adepto do amor livre, a amazona começou na Liga da Justiça como secretária, perdeu seus poderes e foi resgatada por feministas. No seu primeiro filme solo lançado em 2017, ela voltou para o caldeirão cultural de onde nasceu: a mitologia grega.
Tomara-que-caia vermelho, shortinho azul com estrelas brancas, botas vermelhas de cano alto e braceletes metálicos: quando pensamos na Mulher-Maravilha, essa é a imagem que vem à cabeça (encarnada e eternizada pela Lynda Carter, aí em cima).
Mas ela é bem mais do que um uniforme icônico. Diana – o nome de batismo da senhora Maravilha – foi uma das primeiras heroínas das HQs, representou as mulheres que entravam no mercado de trabalho durante a Segunda Guerra Mundial e, 75 anos depois, continua sendo uma das personagens mais famosas e respeitadas da DC Comics.
Origem na guerra
Os EUA viveram uma forte onda nacionalista durante a Segunda Guerra Mundial – basicamente toda a população entendia que Hitler era mesmo um inimigo a ser combatido com sangue, suor e lágrimas.
Ao mesmo tempo, quando os homens foram guerrear, as mulheres é que tiveram de arregaçar as mangas e trabalhar para sustentar suas casas. Foi nesse contexto de nacionalismo somado a emancipação feminina que, em 1941, nasceu a Mulher-Maravilha.
Ela tinha tudo: era uma mulher forte, poderosa, bonita – e, de quebra, estava vestida com as cores da bandeira dos EUA, com uma águia careca, o símbolo do país, estampada no peito. No início, Diana até ajudava Trevor a lutar contra nazistas.
A história do criador da heroína, William Moulton Marston, é tão interessante quanto a dela: psicólogo, ele ajudou a criar o detector de mentiras, defendia a igualdade de gêneros e era liberal em relação ao sexo – inclusive, vivia um relacionamento poliamoroso com sua esposa, Elizabeth, e uma outra mulher chamada Olive Byrne, que vivia usando mas pulseiras metálicas (tudo isso nos conservadoríssimos anos 40).
William fazia parte do time que originou a DC comics, e foi convidado para criar seu próprio super herói. Por pressão da esposa, acabou inventando uma heroína mulher, inspirando-se em Elizabeth e em Olive. O detector de mentiras, então, virou o “laço da verdade”, os braceletes de Olive se tornaram os protetores de Diana, e a força de Elizabeth foi herdada pela amazona. Detalhe: no começo, a Mulher-Maravilha tinha uma série de referências ao sadomasoquismo – o que, junto com a pouca roupa, a estigmatizou por um tempo como um quadrinho “indecente”.
Sem poderes
Nos anos 60, o movimento feminista estava começando a decolar nos Estados Unidos, mas isso não impediu a Mulher-Maravilha de perder todos os seus poderes. É isso aí: nessa época, Diana acaba desistindo de seus superpoderes, para de usar o uniforme icônico, abre uma boutique de roupas e começa a treinar artes marciais com um mestre chinês.
O retorno
Em 1972, a ativista feminista Gloria Steinem, fundadora da revista Ms., achava um absurdo que a heroína mulher mais famosa tivesse perdido os poderes. Em sua revista, ela começou a fazer pressão para que a Mulher-Maravilha voltasse a ser uma super-heroína de fato, o que acabou rolando em janeiro de 1973.